terça-feira, 10 de janeiro de 2017

UM MOÇO MUITO FELIZ! E O REI?

                                           


Conta-se uma historia de um rei que nunca conseguira ser feliz em todo o  tempo de vida de casado, era um monarca de bom coração e governava sua província com muita dedicação e apreço. Reino próspero, conhecido por outros reinos que admiravam a sua administração e povos, fartura imensa, terras férteis e muitas aguadas, animais silvestres e criações domésticas de todas as espécies. Povo ordeiro e trabalhador de todas as idades que compunham este reino, crianças sadias e felizes, estudantes de todas as idades, anciões saudáveis, juventude de futuro, adolescentes super educados  enfim; um povo felicíssimo por gozarem de muita paz e harmonia não só entre eles como também com os povos de outros reinos. Mas o monarca e sua família eram um desastre, eram infelizes, eles não conseguiam ter a paz que tanto desejavam, nem uma semana sequer, era um desarranjo de convivência familiar sem solução na sua realeza. Sabe aquelas picuinhas entre casais? Cão e gato quando não se acertam. Um amanhece emburrado. Outro finge que está sozinho na casa. Outra vez basta olhar que a outra parte já pergunta: Estou respingado de lama? Gestos de muxoxo. Fazem beiço de descaso. Passam dois ou mais dias sem se falarem, um dorme no sofá e o outro lá na dispensa fechado á chave para não ser incomodado. Um almoça primeiro e o outro depois, um janta e o outro só toma um lanche mas separados. E a pirraça? Pensa que falta! Parece que era encomendado para cada dia um escândalo para os vizinhos ouvirem. kkkkkkkkkkk. Brigavam por ninharia. Pareciam dois cãezinhos filhotes quando a gente esfrega o focinho de um no focinho do outro. Assim era a vida dos monarcas. Sorte deles que não tiveram filhos, era só os dois mesmos. Atendia bem o povo que lhe procuravam nas audiências reais, mas bicudos um com o outro. De repente, do nada estavam se beijando, se acariciando e adulando um ao outro. Parecia que tinha acabado a discórdia, mas não iam muito tempo em paz, logo começavam tudo de novo. Até o povo já sabia da má convivência deles mas nada podiam fazer. Os seus conselheiros já haviam perdido as esperanças de conciliação das partes em conflito.  Os dois só nunca pensaram em separação, naqueles tempos antigos os casais se amavam de verdade apesar de brigarem sempre. Havia respeito entre ambos e consideração ao casamento por ser instituição Divina! Obra do Divino Criador! Separação era um insulto ás leis matrimoniais e as ordens vindas do Céus! Casamento era um só, e para sempre, até que a morte os separassem. O casamento era imaculado! Coisa de Deus merecia amor, zelo e carinho! O casal lutava até a ultima gota de esperança para salvá-lo, tanto é que amigos, vizinhos, compadres, e conselheiros, padres e muitas outras pessoas de bem ajudavam na reconciliação da convivência a dois. Mas aquele caso estava muito difícil e a cada dia mais  complicada e piorava a situação. E agora? O que fazer se todos os recursos disponíveis já haviam esgotados? Não há caso sem solução! Não há jacá sem tampa! Nem dois dias seguidos sem uma noite de intervalo! Um dia passou por lá uma cigana, aquele povo andarilho vindo de outra nação, perambulando para tudo o que é lado em busca de dinheiro para se manter e tomou ciência do caso de nossa majestade e esposa que não viviam bem, não era assunto de sua alçada, não queria se intrometer, mas a má notícia daquela  convivência apimentada lhe comoveu. Puxa vida, pensou a cigana! Um lugar tão lindo e acolhedor que não se acha muito fácil, um povo delicado e prestativo com a gente, fui tão bem recebida e bem tratada aqui. Deu um pulinho até ao palácio real e conversou longamente com os dois monarcas, mas rodeando o assunto e que no final da conversa ficaram muito animados em ter mais um recurso para a situação em que viviam, foi um simples conselho da Cigana! Renovaram as esperanças, tiveram novo ânimo, parece que até mais fé em Deus obtiveram, enquanto esta disse-lhes: Procurem uma pessoa que se sinta feliz de verdade em toda a sua plenitude da vida e tome desta pessoa uma veste, se for homem que encontrarem, peça-lhe uma de suas camisas e o senhor vista-a. E se for uma mulher feliz, que seja uma blusinha dela, e a senhora vista-a, se for um casal feliz, melhor ainda, uma peça de cada e aí serão felizes por toda as vossas vidas que ainda tens pela frente. Avisou-os bem: Não é muito fácil encontrar estas pessoas! Terá que andar muito e ver se os encontra, digo-lhe que encontrará sim, ao menos um, disto podem ter certeza! Nunca desanimem nem desistam do vosso casamento. Ele é uma dádiva dos Céus que devem preservar!  Deus vos ajudarão e ele ficará muito contente em ver os vossos esforços. Lembrem-se sempre: Lá nos Céus também são família: Pai Mãe e filhos. De lá que originou a nossa família. A cigana se foi e o Rei logo pôs em prática o seu conselho, destacou três cavaleiros de sua guarda real e enviou-os á todas as províncias procurando a tal pessoa felicíssima. Pelo seu reinado viajaram muitos dias, casa por casa, mas não encontraram nenhuma com a felicidade completa. Eram sempre incompletas, parcialmente felizes. Não servia de acordo com a receita da Cigana. Viajaram meses, em busca daquilo que daria felicidade aos monarcas. O tempo passa, andam que andam e nada de encontrar o que procuravam. Percorreram todos os reinos. Já iam de regresso para a sua Pátria e tristes por ter que dar satisfações negativas ao casal real, preocupados com a situação vinham desolados, tristonhos, aborrecidos, desesperançados de tanto sacrifício que fizeram e sem nada obterem. Passavam por uma estrada ladeada por belíssimas pradarias, campinas verdejantes, pastagens, invernadas de criações de ovelhas e cabritos, quando de repente ouviram o som de uma gaita de boca lá mais embaixo na beira de um córrego onde havia umas pedras á vista numa belíssima sombra a beira da água e do outro lado um casebre coberto de palha de coqueiro. Avistaram  sentado numa das pedras  um moço bem jovem orquestrando uma suave melodia em sua gaita, tão distraído estava o moço que nem percebeu a presença dos cavaleiros se aproximando dele. Levou um susto seguido de uma risada muito amistosa. Os passantes sorriram também cumprimentando-o cortesmente. O rapaz convidou-os para apearem de suas montarias e sentarem nas pedras o que fizeram sem cerimônia. Depois das saudações costumeiras assim que sentaram um dos cavaleiros vendo a cortesia do moço em trata-los, vendo nele aquele semblante feliz irradiando alegria, mesmo vendo-o trajado na maior simplicidade e sem camisa, cuidando de um rebanho de ovelhas, já foi logo perguntando: Me diga uma coisa amigo: Você é feliz? Prontamente o interpelado respondeu: Sim! E muito feliz! Tenho Deus no coração e Paz no espírito! Contento com tudo que tenho! Vivo bem com todos, em perfeita harmonia. Não tenho riqueza, mas tenho saúde! Não tenho uma casa bonita, mas a que tenho acho acolhedora e me abriga das intempéries! Não tenho um chapéu novo, mas com este velho estou abrigado do sol! Não tenho sapatos novos, mas não estou descalço! Não tenho dinheiro guardado, mas tenho fartura na minha mesa! Tens família? De novo o cavaleiro pergunta. Não senhor, sou solitário! Não é preciso ser casado para ser feliz! Uma coisa independe da outra. Mas se fosse seria bom e mais feliz ainda! Não tenho emprego, mas pastoreio estas ovelhas de meu patrão e ele me recompensa pelo trabalho que lhe presto! Os cavaleiros admirados com as respostas do moço lhe disseram: Vamos até á sua casa e nos dê a sua camisa para nós a levarmos ao rei meu senhor, é que ele vestindo-a será muito feliz assim como você é! Pois ele é muito infeliz no casamento! Ele quer a sua camisa, não importamos o custo dela, pagar-lhe-emos o que pedires, queremos a camisa do único homem feliz nesta terra. O senhor é esta pessoa que custou-nos sacrifício para encontrá-lo! De fato sou muito feliz mesmo, a felicidade mora comigo responde o rapaz! Vamos até em minha casa, é aquele casebre ali do outro lado, mas só tenho uma camisa amigos! Se tivesse duas, estaria vestido uma! Está bem, se ela der ao vosso monarca e sua esposa a felicidade que precisam leve-a, nada lhes custa, é um presentinho meu! Quem tem duas dê uma! E quem tem só uma, divida com quem não tem nada! Diga ao vosso monarca que a felicidade no casamento é assim: Cada cônjuge tem só a metade dela, juntando as duas forma uma só, então  completam-se. Esta metade de cada um foi Deus que lhes deu quando casaram, agora a outra metade que acham que ainda falta, os dois devem buscar no dia a dia de suas vidas. Vivendo em perfeita união! Casamento é uma recíproca doação! Um é a metade dos outro. Nele não há prazo de validade! Não há receita perfeita! Nem garantia de permanência dos cônjuges! Mas ainda tem que deixar de existir: O "Meu e o Seu"! Dali em diante começa a existir o "Nosso"! No inicio da criação de: "Um" Deus fez "Dois"! E no casamento:  De"Dois" ele os uniu, voltando a ser "Um" Um só corpo e uma só carne! O Casamento não é para todos, e nem todos são para o casamento, precisam observar este detalhe, porque há muitos que nunca se casam, e são felizes assim, mas os que se casaram, que sejam unidos! Deus não se agrada de separação ou desunião! Existem pessoas que tem pressa em se casar, as vezes o seu cônjuge nem nasceu ainda. Se apressam e dão com a cara na parede. Tenham paciência e esperem! Boa viagem para vocês! Lá se foram os cavaleiros do rei, felizes da vida!

  CONTOS & COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES

                  ANASTACIO MS, 06/01/2017.

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