Em pleno Agosto, um mês que sempre foi um período do ano que
a seca prevalece nesta estação, o inverno onde as folhagens das matas sentem o
calor do sol e caem, as pastagens começam secar ficando esbranquiçadas, os
cursos d’agua diminuem seu fluxo normal, as aves silvestres intensificam a
procura do que se alimentarem, as frutas silvestres, sementes, e raízes da mata
vão se escasseando, os animais andam a noite inteira em busca do que comer,
visitam os barreiros com mais frequência para o complemento alimentar, os
homens dão alimentação seca, ou seja, feno, capins secos, forragens, folhas de
cana de açúcar, napiês, folhas de bocaiúva e várias outras espécies de coqueiros, rações diversas para seu
gado. Pois as pastagens ficam aniquiladas pela estiagem que sempre acontece
entre os mêses de Maio até fins de Agôsto quando o tempo faz uma mudança para outro
período, o período “Das aguas”, entrada de Setembro, como é chamado pelo povo
sertanejo. Sabedores e conhecedores do tempo, o povo da roça, chacareiros e
sitiantes previnem os víveres para seus animais não sofrerem tanto. Mas é obvio
que nunca deixam de emagrecerem um pouco. Logo após as primeiras chuvas já o
panorama da situação muda radicalmente para melhor. Reverdece tudo, as matas
ganham sua beleza natural, os cursos d’agua aumentam de volume, a terra mostra
o seu vigor, a sua fertilidade, a disposição para produzir o que se plantar
nela, enfim vira um paraíso o que antes parecia não ter fim a agrura daquela
sequidão do tempo. Então numa dessas manhãs um bando de urubus faziam revoada
logo no inicio do dia, ali ao despontar do sol no horizonte da côr de sangue. O
que prenunciava um dia muito causticante além de algum vento que soprava um
calor vindo lá nem sei de onde, naquela noite morreu uma rês num dos cantos da
invernada. Ninguém mais perito que os urubus para perceberem um acontecimento
notável destes, seria uma festa para os abutres, todos em alvorôço. Porém
ninguém metia o bico no churrasco antes da ordem superior, que seria o urubu
branco, que é chamado de Urubu-rei. Desceram todos até ali no ponto, as árvores
com seus galhos na maioria sem fôlhas, estavam apinhadas das aves de rapina,
tinha urubus para tudo que era canto até no chão tinha urubu esperando o chefe
para avançarem na rês que estava fresquinha, só môscas que participavam da
descoberta até ali. Não demorou muito, lá no alto via-se a figura do Rei. Com
seu vôo calmo e as batidas das asas compassadas e suaves, fez uma longa curva
nos ares, observando tudo ao redor para ver se não tinha nada ao contrário de
suas intenções. Tudo certo, tudo em paz, todas as aves em silêncio, respeito e
reverência a sua majestade. Este pousou num galho solitário olhou ao redor e
desceu, rodeou a rês morta, periciou-a minuciosamente, até mesmo farejando-a em todo o seu corpo, faz isso em todas as carniças porque se o animal foi morto por envenenamento ou picada de víboras e está contaminado a ponto de ser fatal quem comer, o rei se afasta dalí sem tocar-lhe. Levanta voô e vai embora, ninguém toca no morto, a carniça fica intacta até secar com as intempéries. Como não havia nada em contrário, bicou nos dois olhos do animal, comeu-os, comeu a
língua, rodeou outra vez e lá na traseira do animal bicou e comeu a saída do
corpo, deixando a vista parte das vísceras, kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. É assim que o
Rei faz, só come os três pontos de cada animal. Levantou vôo, e na sua saída a
turma se empolgou, estava liberado a festança. A turma animada avançou. Um dos
urubus que parecia ser o mais idoso do bando chegou primeiro, pousou em cima da
rês, e começou almoçar, todos aproximaram e vamos á festa. Kkkkkkkkkkkkkkk.
Nisto aparece um cachorro, que atraído pela manifestação das aves além de seu
faro aguçado, olhou o urubu velho e disse-lhe, amigo: Você e sua turma não me
dão licença para mim participar desta festa? Roer alguns ossos. Estou com uma
fome danada, preciso defender meu estômago também, ademais esta rês é de
propriedade de meu patrão, que por direito eu posso comer também. Pois não
dissera o velhote, sirva-se a vontade. A Rês é grande e dá para todos nós se
fartar. Kkkkkkkkkkkkkk. Atrevido como os cães são, deu uma barruada nos abutres
que assustaram e afastaram um pouco, numa perna da morta o cachorro comeu a
beça, encheu logo, sentou-se ao lado da carniça, com a língua de fora, começou
a perguntar ao velho urubu: Porque a roupa do senhor é preta? O urubu disse-lhe
no passado fui um temível guerreiro, lutávamos contra uma tirania perigosa, mas
só á noite se davam os combates, então nosso uniforme era preto para o inimigo
não nos identificar. Ah, sim! Disse o cão. E porque o senhor só conversa em
sussurros? Porque a gente no campo de batalha não pode levantar a voz, o
inimigo nos localiza. Ah, sim! De novo o cão. E Porque o senhor quando anda é
de passadas largas e tortas, a posição de seu corpo é “Pensa” de um lado? É
porque a marcha em cadência dos guerreiros é esta, e a minha posição que lhe
parece torta é o peso da espada que carregava de um lado só, o canhoto. Ah, sim
diz o cão. Porque a cabeça do senhor é pelada, sem penas? É por causa do
capacete de aço e o calor que a gente suportou nos combates, me derrubou as
penas e não nasceu mais. Nossa! Então o senhor é muito valente mesmo, guerreou
e voltou vivo. Pois é disse o urubu, tive muita sorte. Porque o uniforme do
senhor é chamuscado e não de um preto brilhante? É por causa da fumaça da
pólvora das armas inimigas. A gente os enfrentava na raça mesmo, era bala
zunindo e a gente avançando. Pode ver a cor do meu uniforme e das minhas canelas é a mesma cor da pólvora. Nossa, disse o cão! Hábil e corajoso guerreiro é o senhor, e lutou
muito. Modéstia a parte sim, disse o corvo. Puxa vida, nunca imaginei que o
senhor tivesse um passado tão glorioso, tão interessante e importante para a história.
Assim você pensa, e não deixa de ser replicou o urubu. Nessa altura o urubu de
“Saco cheio” com o cachorro, mas sem perder a ética dos grandes e ilustres
personagens percebeu que o cachorro estava rindo dele baixinho. Do que está
rindo amigo? Quis saber o urubu! É porque ainda não consegui descobrir, porque
o senhor tem esta “Catinga” desgraçada no corpo, parece que nunca toma banho. Aí o urubu saiu dos eixos com
ele: Escute aqui seu cachorro sem educação, mal agradecido, enxerido,
especulador da vida alheia, depois do bucho cheio fica debochando do próximo
que te serviu? Fora daqui! Senão vai ver do que somos capazes de fazer contigo.
O cão saiu de fininho sem dizer nada, porem rindo-se muito! Nem desculpa, pediu
ao amigo. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
SÃO HISTÓRIAS E CONTOS QUE IMAGINAMOS E ESCREVEMOS PARA NOSSO
BLOGGER.
“COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES” ANASTÁCIO MS 02/03/2015.
“Luizão-O-Chaves”