segunda-feira, 2 de março de 2015

OS URUBUS E O CÃO.



                                                              
Em pleno Agosto, um mês que sempre foi um período do ano que a seca prevalece nesta estação, o inverno onde as folhagens das matas sentem o calor do sol e caem, as pastagens começam secar ficando esbranquiçadas, os cursos d’agua diminuem seu fluxo normal, as aves silvestres intensificam a procura do que se alimentarem, as frutas silvestres, sementes, e raízes da mata vão se escasseando, os animais andam a noite inteira em busca do que comer, visitam os barreiros com mais frequência para o complemento alimentar, os homens dão alimentação seca, ou seja, feno, capins secos, forragens, folhas de cana de açúcar, napiês,  folhas de bocaiúva e várias outras espécies de coqueiros, rações diversas para seu gado. Pois as pastagens ficam aniquiladas pela estiagem que sempre acontece entre os mêses de Maio até fins de Agôsto quando o tempo faz uma mudança para outro período, o período “Das aguas”, entrada de Setembro, como é chamado pelo povo sertanejo. Sabedores e conhecedores do tempo, o povo da roça, chacareiros e sitiantes previnem os víveres para seus animais não sofrerem tanto. Mas é obvio que nunca deixam de emagrecerem um pouco. Logo após as primeiras chuvas já o panorama da situação muda radicalmente para melhor. Reverdece tudo, as matas ganham sua beleza natural, os cursos d’agua aumentam de volume, a terra mostra o seu vigor, a sua fertilidade, a disposição para produzir o que se plantar nela, enfim vira um paraíso o que antes parecia não ter fim a agrura daquela sequidão do tempo. Então numa dessas manhãs um bando de urubus faziam revoada logo no inicio do dia, ali ao despontar do sol no horizonte da côr de sangue. O que prenunciava um dia muito causticante além de algum vento que soprava um calor vindo lá nem sei de onde, naquela noite morreu uma rês num dos cantos da invernada. Ninguém mais perito que os urubus para perceberem um acontecimento notável destes, seria uma festa para os abutres, todos em alvorôço. Porém ninguém metia o bico no churrasco antes da ordem superior, que seria o urubu branco, que é chamado de Urubu-rei. Desceram todos até ali no ponto, as árvores com seus galhos na maioria sem fôlhas, estavam apinhadas das aves de rapina, tinha urubus para tudo que era canto até no chão tinha urubu esperando o chefe para avançarem na rês que estava fresquinha, só môscas que participavam da descoberta até ali. Não demorou muito, lá no alto via-se a figura do Rei. Com seu vôo calmo e as batidas das asas compassadas e suaves, fez uma longa curva nos ares, observando tudo ao redor para ver se não tinha nada ao contrário de suas intenções. Tudo certo, tudo em paz, todas as aves em silêncio, respeito e reverência a sua majestade. Este pousou num galho solitário olhou ao redor e desceu, rodeou a rês morta, periciou-a minuciosamente, até mesmo farejando-a em todo o seu corpo, faz isso em todas as carniças porque se o animal foi morto por envenenamento ou picada de víboras e está contaminado a ponto de  ser fatal quem comer, o rei se afasta dalí sem tocar-lhe. Levanta voô e vai embora, ninguém toca no morto,  a carniça fica intacta até secar com as intempéries. Como não havia nada em contrário, bicou nos dois olhos do animal, comeu-os, comeu a língua, rodeou outra vez e lá na traseira do animal bicou e comeu a saída do corpo, deixando a vista parte das vísceras, kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. É assim que o Rei faz, só come os três pontos de cada animal. Levantou vôo, e na sua saída a turma se empolgou, estava liberado a festança. A turma animada avançou. Um dos urubus que parecia ser o mais idoso do bando chegou primeiro, pousou em cima da rês, e começou almoçar, todos aproximaram e vamos á festa. Kkkkkkkkkkkkkkk. Nisto aparece um cachorro, que atraído pela manifestação das aves além de seu faro aguçado, olhou o urubu velho e disse-lhe, amigo: Você e sua turma não me dão licença para mim participar desta festa? Roer alguns ossos. Estou com uma fome danada, preciso defender meu estômago também, ademais esta rês é de propriedade de meu patrão, que por direito eu posso comer também. Pois não dissera o velhote, sirva-se a vontade. A Rês é grande e dá para todos nós se fartar. Kkkkkkkkkkkkkk. Atrevido como os cães são, deu uma barruada nos abutres que assustaram e afastaram um pouco, numa perna da morta o cachorro comeu a beça, encheu logo, sentou-se ao lado da carniça, com a língua de fora, começou a perguntar ao velho urubu: Porque a roupa do senhor é preta? O urubu disse-lhe no passado fui um temível guerreiro, lutávamos contra uma tirania perigosa, mas só á noite se davam os combates, então nosso uniforme era preto para o inimigo não nos identificar. Ah, sim! Disse o cão. E porque o senhor só conversa em sussurros? Porque a gente no campo de batalha não pode levantar a voz, o inimigo nos localiza. Ah, sim! De novo o cão. E Porque o senhor quando anda é de passadas largas e tortas, a posição de seu corpo é “Pensa” de um lado? É porque a marcha em cadência dos guerreiros é esta, e a minha posição que lhe parece torta é o peso da espada que carregava de um lado só, o canhoto. Ah, sim diz o cão. Porque a cabeça do senhor é pelada, sem penas? É por causa do capacete de aço e o calor que a gente suportou nos combates, me derrubou as penas e não nasceu mais. Nossa! Então o senhor é muito valente mesmo, guerreou e voltou vivo. Pois é disse o urubu, tive muita sorte. Porque o uniforme do senhor é chamuscado e não de um preto brilhante? É por causa da fumaça da pólvora das armas inimigas. A gente os enfrentava na raça mesmo, era bala zunindo e a gente avançando. Pode ver a cor do meu uniforme e das minhas canelas é a  mesma cor da pólvora. Nossa, disse o cão! Hábil e corajoso guerreiro é o senhor, e lutou muito. Modéstia a parte sim, disse o corvo. Puxa vida, nunca imaginei que o senhor tivesse um passado tão glorioso, tão interessante e importante para a história. Assim você pensa, e não deixa de ser replicou o urubu. Nessa altura o urubu de “Saco cheio” com o cachorro, mas sem perder a ética dos grandes e ilustres personagens percebeu que o cachorro estava rindo dele baixinho. Do que está rindo amigo? Quis saber o urubu! É porque ainda não consegui descobrir, porque o senhor tem esta “Catinga” desgraçada no corpo, parece que nunca toma banho. Aí o urubu saiu dos eixos com ele: Escute aqui seu cachorro sem educação, mal agradecido, enxerido, especulador da vida alheia, depois do bucho cheio fica debochando do próximo que te serviu? Fora daqui! Senão vai ver do que somos capazes de fazer contigo. O cão saiu de fininho sem dizer nada, porem rindo-se muito! Nem desculpa, pediu ao amigo. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.


SÃO HISTÓRIAS E CONTOS QUE IMAGINAMOS E ESCREVEMOS PARA NOSSO BLOGGER.
“COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES” ANASTÁCIO MS 02/03/2015.

“Luizão-O-Chaves”

domingo, 1 de março de 2015

NUMA BOCA FECHADA NUNCA ENTROU MÔSCAS.

                                 


Numa tardezinha chuvosa no mês de Fevereiro em pleno verão, lá pelas 17 hs todo o comércio da pequena cidadezinha fechou as portas um pouquinho mais cedo do habitual que sempre foi ás 19 hs e pouco. Isso devido a fortes ventos e chuva que caiu no escurecer e entrava noite adentro e cada vez mais intensa. Lugarejo pequeno encravado no sertão e muito distante de cidades grandes, onde os comerciantes nem se importava de ficar até mais tarde com suas portas abertas, até mesmo se tivesse pouco movimento do povo do lugar e ás vezes alguns forasteiros que em trânsito por ali se achavam. O botequeiro também se recolhera, e após o jantar logo se acomodou para o descanso noturno com sua esposa, não possuíam filhos. Era o seu segundo casamento, pois de uma maneira estranha se desvencilhara do primeiro. Era desconhecido naquelas paragens, desconhecido no modo de dizer, pois ninguém sabia de onde tinha vindo e nada sabiam da sua origem, apesar de já residir ali e tocar há 25 anos aquele ramos comercial. Muito querido, estimado por todos do lugar, era uma excelente pessoa no modo de lidar com seus fregueses e conhecidos. A chuva persistia, ora mais leve e pesada, alternadamente. Casa de madeira com luz interna, não havia iluminação nas ruas e adjacências, todas de terra batida, barrenta com a lama da chuva, escuridão completa, ele se lembrara de quando chegou ali para morar, dizendo a esposa: Há 25 anos passados numa noite como essa, chuvosa deste jeito tive que suportar a noite inteirinha que Deus deu, só com a roupa do corpo e molhado como um pinto, tremendo de frio a noite toda encostado numa árvore, dei graças á Deus quando vi a barra do dia surgir. O sol levantou lindo e reluzente, parecia adivinhar a minha precisão de secar a roupa e depois vesti-la. Fiquei nu até a roupa secou. Vesti e sai sem rumo e sem direção, era uma chapada, um lugar ermo, onde a gente sempre ia caçar. Só que não voltaria mais por onde eu tinha vindo, deixaria para trás uma cena horripilante e um passado humilhante que nem gosto de lembrar. Despojei-me do que tinha levado para aquele local após concluir o planejado. Hoje e pela primeira vez recordo daquele dia triste que me custa sair da memória, dizem os entendidos que esta coisa em algum tempo da vida temos que contar a alguém, nesse ínterim ela dissipa de nossa memória. Agora vou dormir sossegado em paz, há algum tempo isso vem me incomodando. Parece que algo me dizia que precisava desabafar o espírito, alguém precisava saber deste meu segredo, agora tu o sabes, e que para mim é leveza de consciência. Mas o que é que você fez? Interpelou a esposa, agora fiquei curiosa para saber? Agora me conte tudo, senão quem vai ficar sem dormir sou eu. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk. Eu não queria debulhar o assunto, mas para o seu bem eu conto dissera o marido.  Fui traído pela minha esposa, ela estava de amores com meu vizinho e amigo de caçadas e de “esperar” bichos na chapada. Um dia descobri, mas por outro amigo e vizinho também, que me contou tudo, me pedindo segredo: Prometi que jamais revelaria seu nome. Passei noites sem dormir de tanta humilhação e vergonha. Mas não dei demonstração de nada á ninguém, nem á ela, a esposa. Planejei e convidei o traidor para mais uma “esperada,” naquela noite, éramos acostumados a fazer isso, e os bichos estavam saindo numa fruteira, ele topou, então nós fomos, saímos á tardinha, seguimos para o lugar ermo, lá chegando fiz um disparo na cabeça dele como vingança pelo ultraje, pela traição do meu casamento. Enterrei seu corpo, isso já era no escurecer. Joguei as nossas armas de caça num lugar mais distante dali, como tinha onças na região, se alguém não descobrisse o crime ficaria por conta das onças, e o desaparecimento meu também. Vezes anteriores os felinos haviam devorado caçadores incautos. Deu tudo certo. De lá eu sumi, nunca ninguém soube de nosso paradeiro. Vim para este lugar e encontrei você e casamos. Hoje gozo o conceito de uma pessoa honrada, mas só eu sei o que fiz nesta vida. Sinto um arrependimento muito grande pelo feito, a gente nunca está em paz, a consciência acusa, estou sempre incomodado com algo que nem eu sei o que é. Nossa! Dissera a esposa nunca imaginei uma coisa dessas com você. Pois é disse ele. Se pudesse voltar no tempo, o faria com a maior alegria. Sinto tê-lo matado, a mulher não merecia o meu amor, nem o que fiz por causa dela. Encontrei outra, você! És muito honrada. Sinto-me feliz. Mas choro pelo crime cometido. Deixo nas mãos de Deus. Vamos dormir?  A esposa em silêncio assentiu com a cabeça, mas parecia que algo lhe dizia: Isso ainda vai dar complicações. Um pressentimento tomou conta dela, uma coisa esquisita sem saber de onde vinha aquele mau presságio. Mas se acomodou ao lado do esposo fingindo estar tranquila. Pura verdade, os maus pressentimentos sempre anunciam algo de mau agouro. A chuva cessando, logo uma ave noturna soltou um trilado no meio da noite que ela ouvindo, se arrepiara toda. O marido percebeu sua inquietação: O que é amor? Você se assustou? Sim disse ela, algo ruim está para acontecer em nossa casa, uma ave agourenta passou voando sobre nosso telhado e trilou sentida. Isso nunca me enganou. Por fim dormiu. Ela estava com a razão, na biqueira da casa rente a parede, e enquanto chovia, estava um sujeito escondendo da chuva até que esta passasse, ouviu tudo, escutou a conversa todinha nos mínimos detalhes. Era um policial á paisana que horas antes estivera no comércio deles a tomar bebidas com amigos de infância, pois nascera ali, depois se arribou para a cidade grande e lá estudou, se formou em detetive, perito criminal, agente federal, investigador etc. Estava armada a confusão na vida do botequeiro. Este agiu com prudência e calma, saiu da biqueira da casa silencioso como um felino. Voltou ao armazém mais vezes nos dias seguintes, sempre alegre e observando o homem, pensava consigo: Como pode uma coisa dessas! Concluía o raciocínio: Bicho perigoso e traiçoeiro é o elemento humano! Quem diria! Terminando suas férias dirigiu para o vilarejo do criminoso. Vasculhando os arquivos das ocorrências antigas, já arquivadas na delegacia encontrou os nomes de dois elementos desaparecidos há exatos 25 anos atrás. Eram os dois amigos vizinhos e caçadores que supostamente onças tinham comido lá na chapada. A mulher traidora fora localizada, intimada a depor e confirmou o sumiço dos dois, seu marido e o amante que saíram para esperar caça numa fruteira e nunca mais voltaram. Foi o maior reboliço, dali uns dias chegou ao boteco dois policiais a paisana, conversaram longamente com o criminoso. Conferiu o nome dele. Pernoitaram, descansaram e no dia seguinte se apresentaram fardados no armazém, deram a voz de prisão ao botequeiro. Este nem sequer reagiu, tamanho foi o susto que levou. Mas foi preso, conduzido a presença das autoridades lá de sua cidadezinha, confessou o crime. Como o tempo prescreveu este delito. Retornou ao seu reduto, agora em paz e com a consciência tranquila.  Boca fechada não entra moscas. Parede não tem ouvidos, mas escutam também. Portanto, cuidado com a língua!!!

São histórias e contos que imaginamos e escrevemos para o nosso Blogger.
“Coisas de Caboclo de Luizão-O-Chaves” Anastácio Ms, 28/02/2015.
Luizão-O-Chaves.